segunda-feira, 7 de março de 2011

A Carta de Caminha e os índios adoradores extravagantes



Durante muito tempo foi contado nas escolas o "mito do Descobrimento do Brasil". Para se manter esse mito, muito se escreveu e muito se ensinou. Aprendi que o Brasil foi "descoberto" por acaso e que os índios daqui foram passivos, enquanto os portugueses tomavam posse da nova terra.Tudo o que eu lera sobre a Carta de Caminha mostrava-nos uma terra e ser conquistada e um povo a ser "civilizado".

No entanto, uma leitura mais atenta e menos preconceituosa da Carta nos fala muito mais.

1 - Muitas viagens comerciais, como a de Cabral, já haviam sido reis realizados por Portugal. Estudiosos afirmam que era muito mais fácil se aproximar do continente americano para depois navegar rumo ao sul da África, por causa das correntes.

2 - Cabral partiu como uma esquadra de treze navios - mas havia entre os marinheiros algumas figuras que nem sempre estavam presentes: degredados (para serem deixados em lugares vazios), padre e um escrivão real.

3 - O escrivão acabou fazendo o que Alfredo Bosi chama de "certidão de nascimento do Brasil": a carta. Curiosamente, a carta começa a ser escrita DESDE O INÍCIO DA VIAGEM (como se soubesse que algo extraordinário ocorreria) e termina falando apenas SOBRE O BRASIL. Não conta mais nada sobre o restante da viagem - bem sucedida - ao Oriente, nem fala das transações comerciais realizadas.

4 - O que pouca gente sabe é que a Carta era para el-rei e, portanto, não foi de domínio público. Não era propaganda governamental, pois só foi publicada 200 anos depois. Posso crer, dessa forma, que Caminha escreveu o que ele realmente acreditava - e não o que devia ser dito ao povo.

5 - Nas escolas, se ensina que Caminha falou de sua admiração pelo "vestir-se" do índio, pela sua aparente inocência e pela necessidade do rei de "salvar" essa gente, ou seja, trazê-los para a fé cristão (no caso, católico-romana). Tudo isso está certo.

A primeira missa

A primeira missa (Victor Meirelles - 1861)

O que falta aos historiadores em geral é a visão espiritual de tudo isso. Cabral não veio descobrir nada, mas simtomar posse da terra. Portugal era um reino católico e essa visão de mudo estava impregnado em tudo o que fazia (de bom ou cruel). A terra foi vista às vésperas da Páscoa (daí o Monte Pascoal); a viagem foi difícil mas a terra os acolheu (daí o Porto Seguro); certamente foi Jesus que os trouxera até lá - pensavam - (daí a Terra de Santa Cruz).

Ao fincarem a cruz na terra e ao rezarem a missa de Páscoa, estavam, ao mesmo tempo, agradecendo a Deus e tomando posse em nome do rei. Não por acaso, o rei que tomou posse do Brasil foi D. Manuel (Emmanuel) - que significa Deus concosco.

Tudo isso não era novidade para mim. Eu entendia a primeira missa como algo profético, que marcava a consagração de nossa Nação e lhe dava um rumo.

A Carta

Curioso foi quando li a Carta na íntegra e percebi algo tremendo. Confira:

"Enquanto estivemos à missa e à pregação, seria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos como a de ontem, com seus arcos e setas, a qual andava folgando. E olhando-nos, sentaram-se. E, depois de acabada a missa, assentados nós à pregação, levantaram-se muitos deles, tangeram corno ou buzina, e começaram a saltar e dançar um pedaço."

Caiapó - uma espécie de chofar de tupinambá.

isso mesmo! Os índios dançaram e pularam na presença de Deus -e ainda por cima tocaram um instrumento feito de chifre, como um chofar. Os tupinambás foram os primeiros adoradores extravagantes nascidos aqui. e fizeram tudo isso movidos pelo Espírito Santo... afinal, não falavam latim nem português.

Apenas sentiram e dançaram.

Sacerdote hebraico tocando o chofar (uma espécie de caiapó...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário